Agilidade lean Como um time ágil pode fazer mais com menos esforço
Vitor PinhoSobre o livro
Público-alvo
Este livro é voltado para quem deseja atuar como agente de transformação, assumindo o desafio de ajudar times ágeis e organizações a encontrarem formas mais simples e inteligentes de trabalhar, em especial no contexto de fluxos de desenvolvimento de produtos de tecnologia.
O livro foi escrito com muitos exemplos práticos, todos eles bastante simples, para que tanto uma pessoa experiente em métodos ágeis quanto quem deseja entrar na área possam compreender com facilidade os princípios e ferramentas do Lean.
Além disso, este livro é um convite para quem quiser ajudar a desenvolver a comunidade lean no mundo ágil, através da aplicação dos princípios apresentados no livro para a criação de soluções lean que possam ser compartilhadas com outras pessoas e organizações.
O que você verá neste livro
Estruturei este livro de tal forma que pode levar você a me odiar, me xingar e a me acusar de ter organizado o conteúdo em um esquema de cascata. Não posso dizer que faltará razão a você, caso pense assim. Porém, assumi o risco, pois essa foi uma escolha pensada para que você possa vivenciar uma experiência mais imersiva na filosofia lean enquanto avança pelo livro.
Eu decidi abordar os problemas em um capítulo e as soluções em outros. Isso porque, na cultura lean, é muito importante que as pessoas aprendam a analisar os problemas com profundidade, sem confundi-los com as soluções.
No capítulo 1, você aprenderá os conceitos necessários para que não haja confusão sobre o que é o Lean, já que hoje em dia não faltam ofertas de métodos vendidos como sendo baseados no lean thinking, mas que, na essência, não podem ser considerados como tal.
O capítulo 2 tem o objetivo de mostrar, de forma bastante leve, alguns exemplos interessantes de como a filosofia lean pode ajudar a mudar a forma de uma organização pensar e a melhorar os seus resultados, independentemente do tamanho, do tipo ou da fase em que se encontre.
No capítulo 3, você conhecerá os princípios que colocarão a sua mente no mundo lean. Esse capítulo foge um pouco à regra, pois, quando falo dos princípios do Lean, acabo entregando spoilers de problemas e soluções que serão vistos de forma mais aprofundada adiante.
No capítulo 4, abordaremos um assunto de grande importância: os valores que nos previnem de aplicar o Lean da maneira errada e acabar obtendo resultados contrários ao esperado.
No capítulo 5 será onde nos aprofundaremos nos problemas mais comuns em fluxos de entrega de valor. Esses problemas são o que impede que times e organizações entreguem mais resultados com menos esforço. Como disse, a ideia é que a leitura dessa parte, além de ser um treinamento para aprender a enxergar problemas, seja um exercício da sua capacidade de analisá-los com profundidade, sem confundi-los com as soluções.
No capítulo 6, você terá acesso a um poderoso kit de estratégias e ferramentas para que você, o seu time e a sua organização possam analisar e criar soluções para os problemas específicos que vocês enfrentam atualmente.
Logo em seguida, no capítulo 7, veremos estratégias e soluções direcionadas para os problemas de qualidade.
No capítulo 8, entenderemos como os aspectos culturais de uma organização devem se adequar à prática do Lean e adentraremos em mais detalhes nas ferramentas utilizadas para proporcionar o alinhamento estratégico entre as pessoas da organização.
Como não podemos falar de Lean sem falar de métricas de fluxo, reservei o capítulo 9 para mostrar como as métricas são nossas aliadas para a construção de fluxos enxutos.
Finalmente, no capítulo 10, veremos como aplicar o Lean para possibilitar que times que utilizam os principais métodos ágeis do mercado como Scrum, Kanban e OKR, possam melhorar os seus resultados e aprender a fazer mais com menos.
Se te derem um limão…
Eu vivi um grande desafio no início do boom causado pela pandemia da Covid 19 no mercado de profissionais de TI em 2020. Os times da Sefaz-BA, organização onde eu atuo como sensei de agilidade lean, chegaram a ficar com apenas 40% das vagas preenchidas. Para piorar a situação, essa crise ocorreu no momento em que a organização havia decidido dar passos mais firmes em direção à transformação ágil.
Foi fácil constatar que esse não era um problema só nosso. Pela primeira vez, o maior número de mensagens que eu estava recebendo pelo LinkedIn não era de profissionais buscando oportunidades de trabalho, mas sim de empresas solicitando indicação de candidatos para vagas em aberto. Isso estava acontecendo porque eu também sou professor. Eu ensino em uma pós-graduação da área de TI e as empresas tinham esperanças de que eu pudesse indicar alguém dentre meus alunos.
Diante deste cenário, comecei a observar como as grandes instituições tradicionais e as startups lidavam com esse desafio. Algumas estavam apostando em ações como a capacitação gratuita de profissionais, enquanto outras desenvolveram estratégias de marketing para tornar suas vagas mais atrativas.
Contudo, uma coisa que me incomodou nesse tipo de abordagem foi que a responsabilidade pelo enfrentamento da situação estava sendo jogada inteiramente nas costas do pessoal de RH e do pessoal de marketing.
Para mim, estava claro que nós, os responsáveis por botar a mão na massa, também deveríamos fazer algo. Mas o quê? Foi refletindo sobre essa pergunta que percebi que eu e meus colegas estávamos diante da oportunidade ideal para repensar a forma de nossos times trabalharem.
O meu primeiro contato com o Lean
Eu já conhecia o Lean e tinha muita admiração por esse movimento surgido no Japão e que desde a década de 50 ajuda organizações de diversos setores a fazerem mais com menos. O meu primeiro contato com o Lean aconteceu uns 8 anos antes da crise de profissionais no mercado de TI. Eu ainda era consultor sênior da Deloitte e viajava pelo Brasil prestando consultoria para multinacionais instaladas no país.
Nesses projetos, grande parte do meu tempo era desperdiçada limpando e organizando planilhas de dados que chegavam até mim com informações inconsistentes e confusas. Porém, a Votorantim Cimentos era o único lugar onde todos os relatórios que eu recebia estavam corretos e organizados. Em uma das oportunidades em que estive lá, uma mulher muito simpática se aproximou de mim na antessala onde ficava a máquina de café e perguntou com o que eu e meus colegas trabalhávamos. Era fácil perceber que não fazíamos parte do quadro da empresa porque éramos os únicos que estávamos usando terno e sempre rindo alto.
Então respondi que trabalhava como consultor tributário e, logo em seguida, retornei a pergunta. Ela disse, em um tom de voz como se estivesse falando de algo conhecido até por uma criança recém-alfabetizada, que estava ali trabalhando com Lean. A verdade é que eu não fazia a menor ideia do que se tratava. Porém, alguém que entrou naquela empresa puxando uma mochila com rodinhas e mascando chiclete não poderia não saber o que era aquele tal de Lean.
Depois de mais alguma conversa sem muita profundidade, despedimo-nos e eu retornei para a mesa com o meu vergonhoso mindset fixo. Porém, logo que abri o Google, fiquei encantado com as primeiras coisas que pude entender sobre o Lean. Começou a fazer muito sentido porque todo o trabalho na Votorantim parecia fluir com qualidade e organização.
No dia seguinte, fui tantas vezes à máquina de café buscando reencontrar aquela mulher, que as pessoas já deviam estar pensando que eu estava escondendo cappuccino para levar para casa. Infelizmente, eu não a encontrei mais.
Porém, continuei interessado pelo assunto daquela conversa pelos anos seguintes. Passei quase uma década admirando o Lean à distância, enquanto me dedicava a estudar gestão de projetos e aplicar as metodologias ágeis em times de desenvolvimento de software.
O desafio de aplicar o Lean no contexto de times ágeis
Ok, mas como aplicar o Lean no contexto de times ágeis? A questão era que não havia muitas referências sobre isso, o que torna a aplicação sistemática dessa filosofia em uma organização de TI um grande desafio.
Porém, em meio à crise de profissionais de tecnologia em que o mundo estava, seria pegar ou largar. Não havia o que perder e o Lean parecia ser um tratamento de choque para a maioria das dores relacionadas à transformação ágil que muitas organizações estavam vivenciando.
Então decidi aprofundar meus estudos sobre o Lean, agora com um foco obsessivo nas possibilidades da sua aplicação ao contexto de times ágeis. Alguns meses depois, montei uma apresentação de slides bastante enxuta e falei para meus colegas gerentes, para o diretor, para os coordenadores e para alguns líderes sobre as estratégias e ferramentas lean que poderíamos experimentar.
O resultado foi que todos gostaram muito dos horizontes que se abriram naquele momento e a sensação geral foi de "quero mais". Naquele momento surgiu o insight de que o Lean seria a ferramenta ideal para espremermos o limão e fazermos uma "leanmonada".
Assim, desde aquele dia, vivemos uma experiência rica de crescimento, experimentando as ferramentas e estratégias lean aplicadas ao contexto ágil, as quais terei o prazer de compartilhar com você neste livro. Espero que, nas próximas páginas, você também consiga visualizar como transformar as atividades da sua equipe, tornando-as mais rápidas, eficientes, simples e prazerosas.
Comentários sobre o livro
"Desde a criação do Manifesto Ágil em 2001, a abordagem ágil se popularizou até se tornar uma das formas mais almejadas de se trabalhar em todo o mundo, inicialmente no desenvolvimento de software e, hoje, em diferentes áreas. Por sua vez, a comunidade ágil vem amadurecendo ano após ano, ao aprender com suas experiências, suas dificuldades, seus sucessos e seus fracassos.
No entanto, devemos reconhecer que ainda há muito a ser feito para melhorar e evoluir. Nesse sentido, muitos profissionais têm buscado inspiração em outras áreas.
Esta obra chama a atenção por trazer novas perspectivas para a Agilidade a partir de conhecimentos que já estão disponíveis há mais de meio século. O livro propõe incrementar a abordagem ágil com o uso do Lean. Na prática, a abordagem Lean traz conceitos, ferramentas e soluções que podem ser aplicados a muitos dos desafios que equipes ágeis vêm enfrentando, mas que são praticamente desconhecidos por elas.
A partir dessa ideia, o Lean, que curiosamente está nas raízes da Agilidade, poderia ser visto como uma oportunidade para a Agilidade dar o próximo passo em sua evolução."
— Rafael Sabbagh, fundador da K21 e autor do livro Scrum: Gestão Ágil para produtos de sucesso
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"As organizações muitas vezes enfrentam dificuldades ao trabalhar com métricas, especialmente quando não há um propósito explícito para a medição. Os números e os dados não resolverão os dilemas que surgem no dia a dia da gestão. No fundo, as métricas representam um convite para que as conversas saiam do achismo e passem a ter um denominador comum.
O livro do Vitor aborda de forma detalhada os princípios do Lean que, no final do dia, visam suportar análises e melhorias nos fluxos dentro das organizações. Ao entender e aplicar os princípios apresentados, as estruturas e as equipes desenvolverão uma cultura de melhoria contínua orientada por dados. Tal abordagem levará a uma maior eficiência e efetividade."
— Raphael Donaire Albino, autor do livro Métricas Ágeis: Obtenha melhores resultados em sua equipe
Sumário
- Parte I: O essencial do Lean
- 1 O que é o Lean?
- 1.1 Você pensa lean?
- 1.2 Como fazer mais com menos?
- 1.3 Todo agilista deveria conhecer o Lean
- 1.4 Por que estão falando pouco sobre Lean na comunidade ágil?
- 2 O jeito lean de melhorar resultados
- 2.1 As 3 perguntas para uma transformação lean ágil
- 2.2 O crescimento lean
- 2.3 O lucro lean
- Parte II: Agilidade lean
- 3 Os 5 princípios do Lean
- 3.1 O jeito certo de aplicar o Lean a times ágeis
- 3.2 Princípio 1: Definir o que é valor
- 3.3 Princípio 2: Mapear o fluxo de entrega de valor
- 3.4 Princípio 3: Tornar o fluxo contínuo tanto quanto possível
- 3.5 Princípio 4: Praticar o sistema puxado
- 3.6 Princípio 5: Buscar a perfeição
- 4 Os valores do Lean
- 4.1 O respeito pelas pessoas
- 4.2 Gemba Gembutsu
- 4.3 Qualidade como investimento
- 4.4 Consistência de uma tartaruga
- Parte III: Problemas e soluções lean
- 5 Os 3 tipos de problemas em fluxos
- 5.1 Mura (variabilidade)
- 5.2 Muri (sobrecarga)
- 5.3 Muda (desperdícios)
- 6 A solução lean para problemas de fluxo
- 6.1 Pipeline (One Piece Flow)
- 6.2 Balanceamento de fluxo
- 6.3 Just in time (JIT) e sincronização de processos
- 6.4 O Lean Kanban
- 6.5 Heijunka — nivelamento da produção
- 6.6 Redução do tempo de setup
- 6.7 Zona de passagem de bastão (ZPB)
- 6.8 Multifuncionalidade
- 6.9 Engenharia de Valor
- 6.10 Nagara
- 7 Gestão da qualidade
- 7.1 Gestão da Qualidade Total (TQM)
- 7.2 Qualidade na fonte
- 7.3 Poka-yoke
- 7.4 Autonomação (Jidoka)
- 7.5 Andon
- 7.6 Os 4 tipos de problema
- 7.7 Análise de causa raiz (RCA)
- 7.8 O diagrama de Pareto
- 7.9 Relatório A3
- 7.10 Padrões
- 7.11 O 5S
- 7.12 Kaizen
- Parte IV: Aplicação do Lean à realidade das organizações
- 8 Compatibilização da cultura organizacional com o Lean
- 8.1 Como não fazer o Lean?
- 8.2 Avaliando a compatibilidade da cultura com o Lean
- 8.3 Hoshin Kanri
- 9 As métricas de fluxo
- 9.1 A Teoria das Restrições
- 9.2 Tempo de atravessamento (lead time)
- 9.3 Takt Time
- 9.4 Tempo de Ciclo (Cycle Time)
- 9.5 Revendo a Lei de Little
- 9.6 Eficiência de fluxo
- 9.7 Contexto importa
- 10 Melhorando times ágeis com o Lean
- 10.1 Lean x Scrum
- 10.2 Lean x Kanban
- 10.3 Lean Discovery
- 10.4 Lean x modelo Spotify
- 10.5 Lean x OKR
- 10.6 Lean VERSIOM
- 10.7 O Self Lean
- 11 Referências
Dados do produto
- Número de páginas:
- 243
- ISBN:
- 978-85-5519-342-2
- Data publicação:
- 08/2023