Guia do mestre programador pensando como pirata, evoluindo como jedi
Carlos BuenoPrefácio
Quando analisamos nossa vida, a primeira coisa em que pensamos é como vamos ganhar dinheiro para vivermos tranquilamente. Podemos investir em uma poupança – apesar de ser um investimento conservador que não nos trará muita diferença no futuro –, podemos investir em ações na bolsa e ganhar um bom dinheiro ou perdê-lo rapidamente, ou fazer outros investimentos, como compra de casas para venda em longo prazo.
Entretanto, nenhum desses investimentos consegue bater o investimento no conhecimento, pois, como dizem popularmente, uma pessoa pode ganhar dinheiro facilmente por uma questão de sorte, mas também pode ser roubada e nunca mais recuperá-lo. Agora, conhecimento é um dos raros bens humanos que não podem ser roubados.
É como a frase eternizada de Benjamin Franklin: "Investir em conhecimento rende sempre os melhores juros". Cada vez que adquirimos mais conhecimento, acabamos sendo reconhecidos pelas pessoas em volta e, com esse reconhecimento, conseguimos colher os frutos rapidamente.
Em minha carreia profissional, de 2009 a 2014, elevei meu salário em 1.000%. Nesse período de 5 anos, será que conseguiria com algum investimento evoluir meus recebíveis mensal de tal forma se não investisse em minha educação? Confesso que não é fácil, mas também se fosse, não colheria a recompensa tão rapidamente.
Então, sabendo disso, aconselho que invista sempre em conhecimento. Alguns cursos e livros são caríssimos e muitas pessoas vão questioná-lo por adquirir algo que não é tangível, e você acabará passando períodos apertados. Porém, é essa capacidade de ficar “apertado” e investir em seu futuro que lhe dará um salto salarial e profissional, enquanto os que dizem isso estarão na mesmice e reclamando.
Para conseguir buscar meu sonho de ser programador, passei por profissões temporárias que davam as condições financeiras para alcançar meus objetivos. Ao contrário de muitos que devem estar lendo este livro, iniciei meu trabalho jovem, ajudando meu pai e lavando copos em sua lanchonete aos 11 anos. Então, comecei a fazer alguns cursos custeados por ele.
Os primeiros foram de MS-DOS, Wordstar e DBase. Logo após, fiz um curso de Clipper e, com o passar do tempo, fui me apaixonando cada vez mais pela área de TI. Comecei a fazer meus primeiros programas, e vi que deveria entrar logo em algo que me direcionasse ao desenvolvimento de software.
Assim, fui estudar em uma Escola Técnica, a qual era particular. Para isso, precisei, além da ajuda da minha mãe, de um emprego para completar o investimento. Então, comecei a ajudar um senhor a fazer os serviços de manutenção de sua casa: jardinagem, pintura, compras no mercado etc. Nunca me preocupei em fazer essas subtarefas, pois sabia que era temporário, e que logo estaria com um emprego de programador podendo ganhar bons salários.
O caminho foi longo, mas não estava errado. Com o passar do tempo, minhas tarefas laborais eram cada vez mais nobres e meu salário cada vez maior, sendo que, quando olhava para trás, via amigos de famílias mais abastadas no mesmo emprego de anos atrás, com o mesmo salário.
Entretanto, além de conhecimento, a variável mais importante do meu sucesso foi o **foco**, pois em nenhum momento me perdi no vasto oceano de conhecimento da área de TI. Claro que nunca quis ser um especialista, mas também não poderia saber um pouco de cada coisa. Criei um perfil técnico que acreditava ser de sucesso e foquei em me tornar isso, sendo que cada ação que fiz foi puramente planejada para o sucesso futuro.
Além do foco, comecei a entender que o relacionamento era algo importante e que, cada vez que me comunicava melhor, meus resultados também melhoravam. Passei a entender bem Aristóteles quando ele disse: “O homem é um animal político”.
Assim, passei a me aprofundar no tema buscando conhecimento em áreas como história, filosofia, ciências políticas, entre outras que estão totalmente fora de Tecnologia. E, com essas skills, consegui entender um pouco mais além do que um profissional comum. Com esse perfil, comecei a perceber o momento em que deveria apresentar algo a um chefe, quando e como deveria falar com um técnico de um cliente, como tratar meus companheiros de trabalho. Aprendi assim que um programador sozinho pode construir um ótimo sistema, mas um ótimo programador com uma equipe coesa pode revolucionar e obter grandes resultados, desde que saiba se relacionar e potencializar todos ao máximo.
Não foi fácil seguir esse caminho. Aprendi alguns conceitos básicos lendo alguns filósofos, sendo o principal deles: não dar respostas imediatas. Isso foi o que revolucionou tudo para mim. Sempre que alguém me pedia uma solução técnica, ou qualquer outro tipo de questionamento que ocorria em meu trabalho, eu não respondia imediatamente. Mas por que fazia isso?
A resposta é simples. Se eu responder imediatamente, com certeza serei mais levado pela emoção do que pela razão, mesmo sendo uma resposta técnica, pois necessito de tempo para avaliar todo o cenário e ver se existem outras soluções inteligentes que superam, inclusive, a que propus.
Além disso, o padrão escolhido e respondido pode ter um antipadrão, que poderia passar despercebido em uma resposta rápida. Essa decisão de voltar, estudar o caso e apenas depois responder foi o que me fez ser respeitado, pois sabem que raramente proponho algo que dê errado.
Pense bem. Ninguém gosta de uma resposta errada, por mais que seja rápida. Todos à nossa volta praticamente utilizam uma balança que avalia nossos erros e acertos e, com isso, tiram suas impressões sobre nós. Assim, quanto mais erros, pior pode ficar.
Em caso de dúvida, nunca responda. Na certeza, reflita, medite, tente extrair algo além, saia para andar de bicicleta, vá a uma exposição, descanse um pouco a mente, e pense.
Apesar de agir assim, acabava me frustrando um pouco profissionalmente, devido a insucessos em projetos, atitudes corporativistas que vi em empresas por que passei, supergerentes que gerenciam cada detalhe de sua vida, entre outras atitudes que seguem o padrão empresarial tradicional e que frustra a todos.
Não sei se apenas eu sonho por um emprego onde se tenha prazer em trabalhar, e ter prazer não se resume a farra ou comilanças à vontade, mas respeito e crédito no conhecimento que se possui. Na contramão do reconhecimento e respeito, as empresas em sua maioria são lideradas por pessoas com sentimento paternalista, os quais tentam solucionar tudo da sua maneira, colocando todos os outros trabalhadores em um status quo inferior, além de impedir que outros deem suas opiniões e ajudem a pensar como solucionar certos problemas.
O pior é que esses chefes – os quais não podemos chamar de líderes – veem empresas como a IDEO, Apple etc., e acham o máximo, mas mal sabem eles que fazem tudo ao contrário, que rasgam e jogam no lixo todo o conhecimento revolucionário em Tecnologia. Então, pensando nisso, eu e mais dois amigos – na realidade, um amigo e uma amiga –, fundamos uma empresa de TI na qual podemos: aplicar todos esses conceitos, tratar a todos que nela trabalham com o mesmo status quo e poder, e inovar escutando a todos. Ou seja, uma verdadeira empresa pirata, na qual, em tempos de ditadura empresarial, lidamos com igualdade, liberdade e experimentação.
Hoje, posso ir trabalhar de bicicleta, levar a equipe para trabalhar em um parque, destinar tempo de estudo (individual, coletivo ou em par), escutar feedback de todos sobre o que é feito, e juntos podemos propor novidades que inovem. O foco não é apenas como empresa na relação com o cliente, mas em sermos mais humanos e termos um espaço saudável em que todos estão preocupados com cada um que ali trabalha.
Por exemplo, fico feliz em saber que um dos membros da equipe pode levar seu filho ao pediatra acompanhado da mãe, pois acredito que o desenvolvimento dessa criança será muito maior. Imagino que, quando ela crescer, o pai poderá assistir suas apresentações e ir a reuniões de pais e mestres, uma vez que poderá fazer home-office ou se abster de ir ao trabalho quando julgar que sua vida pessoal está acima naquele dia de trabalho. Claro que não é fácil ter pessoas com ótima autogestão, mas isso é possível de se encontrar no mercado; é só querer.
Finalmente, pensando em todo meu percurso até o presente momento, resolvi escrever esta obra para ajudar a quem se interessar em chegar aqui onde estou, e a conseguir criar círculos mais inclusivos e cooperativos. Espero que gostem do livro e que ele possa guiar seu caminho para ser um Mestre Programador.
Sumário
- 1 Introdução
- 2 Piratas
- 2.1 Por que ser um Pirata?
- 2.2 Como agem os Piratas?
- 2.3 Criando um espaço Pirata
- 2.4 Piratas inovam
- 3 Política
- 3.1 Produto do meio
- 3.2 Animal político
- 3.3 Liderança e estratégia
- 4 A arte de programar
- 4.1 Artesãos, e não operários
- 4.2 Mas por que Humanas e não Exatas?
- 4.3 Gestão de artistas
- 5 Iniciado
- 5.1 O iniciado
- 5.2 Primeiro pilar: conhecimento
- 5.3 Segundo pilar: autodisciplina
- 5.4 Terceiro pilar: força
- 5.5 Ingressando em um clã
- 5.6 Característica que identificam um jovem Jedi
- 5.7 Quando um iniciado está apto a se tornar um Padawan?
- 5.8 Rotina de treino
- 6 Padawan
- 6.1 O que é um Padawan?
- 6.2 O poder do domínio
- 6.3 As virtudes de um bom programador
- 6.4 Trabalhando com seus Mestres
- 6.5 Orientação a Objetos e Governança
- 6.6 Rotina de treino
- 7 Cavaleiro Jedi
- 7.1 Valores de um Cavaleiro
- 7.2 Mantenha seu sabre de luz limpo
- 7.3 Desvendando padrões
- 7.4 Camada de apresentação e regras de negócio
- 7.5 Amando sua profissão
- 7.6 Indo além
- 7.7 Rotina de treino
- 8 Mestre Jedi
- 8.1 Autoconsciência
- 8.2 Autogestão
- 8.3 Empatia
- 8.4 Habilidade social
- 8.5 Pensando como Mestre
- 8.6 Arte de negociar
- 8.7 Conhecendo de tudo um pouco
- 8.8 Rotina de treino
- 9 Conclusão
- 10 Bibliografia
Dados do produto
- Número de páginas:
- 134
- ISBN:
- 978-85-5519-120-6
- Data publicação:
- 11/2015