Mestrado e Doutorado em Computação Um guia para iniciação e sobrevivência, sem academês
Bruno CartaxoSobre o livro
Se você já pensou, pensa em fazer ou está fazendo mestrado ou doutorado em computação, acredito que este livro será muito útil, seja você alguém que deseja seguir uma carreira estritamente acadêmica, ou alguém que já tem ou pretende ter uma carreira sólida na indústria, mas que também gostaria de ter formação e experiência com pesquisa.
Procuro cobrir as principais questões relativas a como iniciar e sobreviver a todo o processo de um mestrado ou doutorado.
Antes, preciso ser sincero: já existem livros como este por aí; porém, a grande maioria, a meu ver, tem pelo menos uma das seguintes limitações:
1. Não é focada na realidade brasileira;
2. Não traz exemplos de experiências concretas;
3. Não leva em consideração pessoas que atuam na indústria.
Neste livro, discuto várias particularidades das instituições de ensino e pesquisa brasileiras e dos seus respectivos programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado), sem deixar de lado o cenário e as oportunidades fora do país. Falo, por exemplo, sobre os diferentes tipos de pós-graduação e todos os detalhes sobre como escolher a instituição e a pessoa orientadora, além de como você deve se portar enquanto aluno ou aluna de mestrado e doutorado.
Tentei, tanto quanto possível, escrever este livro como se estivesse conversando com um amigo. Então, trago vários exemplos de situações que vivi na própria pele ou que vi colegas e pessoas próximas a mim viverem. Falo do que deu certo, mas também do que deu errado. Experiências concretas e vivas.
Para atacar a última limitação, dei uma atenção especial a pessoas que querem fazer mestrado e/ou doutorado, mas atuam na indústria, em empresas. Acho que essa é a limitação mais crítica.
Vejo poucos casos de tentativas de traduzir as expectativas e códigos de condutas invisíveis que fazem com que a academia e a indústria pareçam dois bichos incomunicáveis. Não são e não deveriam ser. Fiz boa parte do meu mestrado e doutorado me dividindo entre academia e indústria e acabei tendo que desenvolver esse olhar para sobreviver. Por isso, dou uma atenção especial a essa questão.
Como este livro busca explicar o funcionamento da academia para pessoas que ainda não tiveram essa experiência, apresento várias ideias e conceitos da forma mais simples e direta possível.
Não tenho a menor pretensão de cobrir todos os tópicos exaustivamente, muito menos de me aprofundar nas várias discussões que fazem parte do mundo acadêmico — por exemplo, a validade e utilidade de métricas e rankings para medir produtividade de pesquisadores, publicações e instituições de pesquisa, além de tantos outros pontos controversos. A seu tempo, as pessoas serão naturalmente expostas a essas temáticas e formarão sua própria opinião.
Por fim, espero que aproveite este livro e que possamos, de um por um, aproximar cada vez mais a academia da indústria. Quem sabe assim a gente consiga desenvolver tecnologias de ponta que resolvem os problemas do nosso país e do mundo. Afinal, não há país desenvolvido sem valorização e investimento em pesquisa.
Vamos em frente?
Prefácio
São 14 horas e alguns minutos do dia 8 de dezembro de 2017. Numa sala do térreo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT-SP) é possível me encontrar fazendo a defesa de minha dissertação. Foram 2 anos e meio de escrita, dedicação, leitura de artigos e livros e algumas noites sem dormir. O futuro mestrando era alguém que, somado a tudo isso, ainda tinha que trabalhar durante o dia como consultor e ser pai em tempo integral.
Felizmente, essa história teve um final feliz. A dissertação foi aprovada. Após a euforia (e do choro, que veio mesmo sem minha aprovação) comecei a fazer uma pequena retrospectiva de todo o processo para a obtenção do título. Em diversos momentos, tive contato com muitos conceitos novos. O que é a CAPES? O que significa um extrato? E uma avaliação A1? Como escrever um artigo científico? Por que o meu orientador não aprovou o que escrevi? Onde está aquele artigo mesmo?
No Brasil, infelizmente são poucas as pessoas que chegam a realizar uma pós-graduação. E menos gente ainda faz uma pós stricto sensu (ou, se preferir, um mestrado ou doutorado). Então, é natural que muito dos termos e práticas presentes sejam desconhecidos pela maioria. Às vezes alguns procedimentos podem parecer um exagero, ou mesmo desnecessários. Mas na verdade representam uma evolução de muitos anos no processo científico. Logo, são inevitáveis.
E, se são assim, é importante entender como eles funcionam. Não obstante, tornar-se mestre ou doutor é algo para a vida toda, e poderá lhe abrir muitas portas, tanto no meio acadêmico quanto no mercado de trabalho. É um atestado de que você realizou um excelente treinamento como pesquisador ou pesquisadora, e o mundo atual precisa de pessoas criadoras e disseminadoras de conhecimento.
Entretanto, se grandes recompensas são frutos de esforço, é importante que você trate esse desafio como um projeto, com uma organização que, se você não teve na faculdade, com certeza precisará desenvolver no mestrado ou doutorado. Posso dizer que, até o mestrado, nunca precisei usar uma agenda na vida. E hoje, não vivo sem uma.
Essas e outras valiosas dicas podem ser encontradas neste livro. Lendo ele, você entenderá que o esforço pelo esforço só tornará as coisas mais difíceis, podendo inclusive prejudicar a sua saúde. São necessários métodos e planejamento.
Gostaria muito de ter lido este livro quando era mestrando. Espero que você aproveite essa oportunidade e tenha muito boa sorte nos seus estudos!
Rodrigo Vieira Pinto, um programador/professor que entende que a TI tem muito ainda a crescer e evoluir. E a gente, muito a contribuir.
Sobre o autor
Meu nome é Bruno Cartaxo, estou envolvido com desenvolvimento de software desde 2006 e acabo sempre mantendo um pé no mundo acadêmico e outro na indústria. Tem muita coisa valiosa em ambos os lados para escolher somente um.
Tenho alguns anos de experiência de trabalho full-time com desenvolvimento, inovação e consultoria na indústria de software. Já atuei como gerente de projetos, líder técnico e engenheiro de sistemas em projetos com empresas como Samsung, Motorola, Dell, HP e Bematech, e em parceria com instituições de inovação, como: o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR) — premiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) como melhor Instituto de Ciência e Tecnologia do Brasil; o Instituto SENAI de Inovação para Tecnologias da Informação e Comunicação (ISI-TICs) e o Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn/UFPE).
Já trabalhei em times pequenos, médios, grandes e distribuídos, aplicando vários processos, princípios e práticas de desenvolvimento e gestão de software, tais como: Scrum, XP, Kanban e RUP. Do lado mais técnico, já atuei analisando, desenvolvendo, evoluindo e otimizando sistemas e ferramentas de naturezas diversas: sistemas coorporativos, web, mobile, embarcado e stand-alone, além de ferramentas de análise estática de código-fonte e customização de device drivers e módulos do kernel. A maior parte da minha experiência é com Java, .NET/C#, C/C++ e bibliotecas e frameworks relacionados, apesar de ter alguma familiaridade com Python, R e JavaScript.
Concluí mestrado (em 2014) e doutorado (em 2018) em Ciência da Computação pelo Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (CIn/UFPE), um dos poucos programas brasileiros de pós-graduação em computação avaliado com a nota máxima pela CAPES.
Como pesquisador, tenho feito pesquisas puras e aplicadas por mais de 10 anos, principalmente nas grandes áreas de engenharia de software e transferência de tecnologia (mas não restrito a elas). Nas pesquisas de que participo, costumo aplicar vários métodos quantitativos e qualitativos, tais como: surveys, experimentos controlados, estudos de caso, pesquisa-ação, revisões sistemáticas e machine learning.
Já publiquei mais de 20 artigos científicos — que, atualmente, somam mais de 250 citações — em vários dos principais periódicos e conferências internacionais de engenharia de software, além de ter feito apresentações em países como Canadá, Nova Zelândia, Irlanda, Espanha, China, Argentina, Peru e Brasil.
Também faço parte do corpo de revisores e do comitê de programa de vários periódicos e conferências internacionais de alto impacto na área de engenharia de software, tais como: IEEE Transactions on Software Engineering (TSE); Elsevier Information & Software Technology (IST); Elsevier Journal of Systems and Software (JSS); Springer Empirical Software Engineering Journal (EMSE); IEEE International Conference on Software Maintenance and Evolution (ICSME) e ACM/IEEE Empirical Software Engineering and Measurement (ESEM).
Atualmente, sou professor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), Campus Paulista. Costumo ministrar disciplinas de programação, algoritmos e estrutura de dados, engenharia de software e projeto de software, além de orientar e co-orientar alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Também presto consultoria, prospecto, coordeno e executo projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em parceria com empresas.
Procuro também atuar como "comunicador" no meio de TICs, por isso estou à frente do HIDEV Podcast (https://anchor.fm/hidevpodcast), que promove uma conversa aberta com profissionais da indústria e da academia, já tendo sido apontado pelo Spotify como um dos 10 podcasts de tecnologia mais escutados do Brasil. Além disso, publico textos no meu blog pessoal (https://brunocartaxo.com/blog/) e no Medium (https://brunocartaxo.medium.com/). Estou sempre interagindo, conhecendo pessoas, aprendendo e compartilhando conhecimento com a comunidade de desenvolvimento de software da indústria e da academia pelos meus perfis no Twitter (https://twitter.com/brunocartaxo) e no LinkedIn (https://www.linkedin.com/in/brunocartaxo).
Sumário
- Parte 1: INICIANDO NO MUNDO ACADÊMICO
- 1 Academia e indústria: diferentes e complementares
- 1.1 O que esperam de você, na academia e na indústria
- 1.2 Ganhos à carreira ao fazer mestrado ou doutorado
- 1.3 A pesquisa está mais perto do que você imagina
- 1.4 Conciliando uma carreira na indústria e na academia
- 2 Tipos de pós-graduação
- 2.1 Lato sensu
- 2.2 Stricto sensu
- 2.3 Mestrado
- 2.4 Doutorado
- 2.5 Pós-doutorado
- 2.6 Terminologias e títulos estrangeiros
- 3 Escolhendo uma instituição de pesquisa
- 3.1 Avaliação dos programas
- 3.2 Processo de seleção
- 3.3 Regras dos programas
- 4 Escolhendo um(a) orientador(a)
- 4.1 A escolha do(a) orientador(a)
- 4.2 Características de um(a) orientador(a)
- 4.3 O papel do(a) co-orientador(a)
- 5 Sua atitude enquanto aluno(a) e a relação com o(a) orientador(a)
- 5.1 Boas práticas
- 5.2 Mudando de orientador
- Parte 2: SOBREVIVENDO NO MUNDO ACADÊMICO
- 6 Consumindo literatura científica
- 6.1 Tipos de literatura científica
- 6.2 Onde e como procurar por artigos científicos
- 6.3 Como ler literatura científica
- 7 Definindo o tema da sua pesquisa
- 7.1 Seu tema não é só seu
- 7.2 Cenários de definição de tema
- 7.3 Estratégias para prospectar temas
- 7.4 O que todo tema de pesquisa precisa ter
- 7.5 Mudanças de tema
- 8 Escrevendo a tese ou dissertação
- 8.1 Começando a escrita
- 8.2 Estrutura da tese
- 8.3 Escrevendo a sua tese
- 8.4 Estilo de escrita
- 8.5 Ferramentas de escrita
- 8.6 Encerrando a escrita
- 9 Produzindo e publicando artigos científicos
- 9.1 Autoria de artigos científicos
- 9.2 Estrutura de um artigo científico
- 9.3 Onde publicar
- 9.4 Submissão e revisão por pares
- 9.5 Lidando com as revisões e rejeições
- 9.6 Custos de publicação
- 9.7 Estratégias de publicação
- 9.8 Divulgando sua pesquisa para além da academia
- 10 Apresentando sua pesquisa
- 10.1 Composição da banca de defesa
- 10.2 Preparação para a defesa
- 10.3 Mindset para a defesa
- 10.4 Dia da defesa
- 10.5 Depois da defesa
- 10.6 Apresentando artigos em eventos científicos
Dados do produto
- Número de páginas:
- 231
- ISBN:
- 978-85-5519-330-9
- Data publicação:
- 02/2023